Pesquisa do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São
Paulo (USP) mostra que quase metade dos brasileiros concorda com o uso
de tortura para obtenção de provas nos tribunais. O levantamento, feito
em 2010 e divulgado na terça-feira (5), utilizou a frase “os tribunais
podem aceitar provas obtidas através de tortura” e obteve discordância
de 52,5% dos entrevistados, contra 71,2% em 1999.
Para a coordenadora da pesquisa, professora Nancy Cardia, o
desapontamento da população com a eficiência da Justiça e das polícias
em esclarecer crimes mais graves pode explicar o aumento da aceitação do
uso de tortura para obtenção de provas.
“Existe uma frustração com o desempenho do nosso sistema de Justiça.
Ao longo desse período, de 1999 a 2010, houve um crescimento brutal da
população prisional, mas não necessariamente estão nas prisões as
pessoas que cometeram os crimes que produzem mais medo na população”,
disse.
A pesquisa aponta que, para a maioria dos entrevistados, a polícia
deve “interrogar sem violência”. No entanto, aproximadamente um terço
dos pesquisados concorda que a polícia, para obter informações sobre
crimes, submeta suspeitos a meios extralegais como: “ameaçar com
palavras”, ”bater”, “dar choques ou queimar com ponta de cigarro”,
“ameaçar membros da família” e “deixar sem água ou comida”.
O uso de algum tipo de violência é mais aceito para suspeitos de
delitos como estupro (43,2%), tráfico de drogas (38,8%), sequestro
(36,2%), uso de drogas (32,3%) e roubos (32,1%). Estes suspeitos
poderiam receber um pior tratamento durante a investigação policial, na
opinião dos pesquisados. O levantamento mostra que quanto mais jovem o
entrevistado, maior parece ser a tendência em apoiar o uso de práticas
de tortura.
De modo geral, os entrevistados continuam desaprovando o uso de força
pela polícia. Porém caiu, no período de 1999 a 2010, os que “discordam
totalmente” que a polícia pode: “invadir uma casa” (de 78,4% em 1999
para 63,8% em 2010), “atirar em um suspeito” (de 87,9% para 68,6%),
“agredir um suspeito” (de 88,7%, para 67,9%) e “atirar em suspeito
armado” (de 45,4% para 38%).
Para a maioria dos entrevistados, a prisão é percebida como pouco ou
nada eficiente tanto para punir (60,7%) ou reabilitar (65,7%) os
infratores, como também para dissuadir (60,9%) e controlar (63%)
possíveis criminosos.
Os entrevistados também foram ouvidos sobre as penas que seriam mais
adequadas para os crimes graves – identificados pelas pessoas
pesquisadas como os que atentam contra vida, terrorismo, corrupção,
estupro e tráfico de drogas.
O maior consenso identificado foi sobre o uso da pena de prisão
perpétua para alguém condenado por terrorismo (35,9%), a pena de prisão
com trabalhos forçados para políticos corruptos (28,3%) e a pena de
morte aplicada a estupradores (39,5%). A opção de pena de prisão é
mencionada por 32% dos entrevistados para os sequestradores, maridos que
matam a mulher (30,5%), jovens que matam (37,2%) e traficantes de
drogas (28,8%).
Sul 21
Com informações da Agência Brasil
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